Galos e Lobos - De Creixomil ao Gradil a Recordar e a (re)Criar Histórias de Encantar

Galos e Lobos - De Creixomil ao Gradil a Recordar e a (re)Criar Histórias de Encantar
Repositório de Histórias

No âmbito do Projeto "Galos e Lobos - De Creixomil ao Gradil a Recordar e a (re)Contar Histórias de Encantar", temos como objetivo, entre outros, organizar as histórias, as fábulas, os contos e tudo o que mais diga respeito às tradições orais ligadas aos Lobos e aos Galo
s.
Aqui podem ouvir tudo o que ouvimos (e tentar sentir tudo o que sentimos!).
Sejam Bem Vindos!

GalObo

A história do gaLObo, que começou com um lobo e um ovo…

Em Jardins de Infância, que distam trezentos quilómetros no mapa, dois amigos, Cristina e Henrique, decidiram escrever uma história para as crianças com quem todos os dias brincam.
Em Creixomil, uma aldeia perto da cidade de Barcelos, brincam com a Cristina, o Lourenço, o Tomás, a Joana Figueiredo, a Lara, o Afonso, a Margarida, o Bruno, a Inês, o Simão Pereira o Simão Faria, a Iva, o João Carlos, a Joana Vieira, o João Pedro, o Alexandre e a Soraia.
No Gradil, uma aldeia de Mafra, o Luís Maria, a Mariana, a Michelle, o Bernardo, o David, a Victória, a Ana Beatriz, a Ana Rita, a Bianca, a Maria Francisca, o Gustavo, a Maria Júlia, o Afonso, a Eliana, a Érika, a Beatriz, a Stephanie, a Lara, a Margarida Falcão, o Simão e a Margarida Carriço, brincam com o Henrique,
E nestas aldeias, com nomes que rimam, havia muitos animais.
Mas para esta história, escolheram dois muito especiais: De Creixomil vem um galo. Mas não é um galo qualquer. Não nasceu de ovos amarelos, nem no meio dos cogumelos. É um Galo de Barcelos.
Do Gradil vem um lobo que, numa floresta de árvores autóctones, cresceu com os seus pais e gosta de brincar com outros animais.
E assim nasce a história do Lobo e do Ovo… e, quem sabe, de um gaLObo.


Era uma vez … ou talvez duas ou três…

Numa floresta do Gradil, ali para os lados de Mafra, com carvalhos, castanheiros, azinheiras e sobreiros, vivia um casal de lobos ibéricos com o seu filhote que, por ainda ser muito pequeno, chamavam lobacho.

Um dia, quando passeavam pela floresta, que fora preservada por um grupo de homens e mulheres que sabiam que os lobos precisavam de um sítio seguro para morar, o lobacho, que brincava entre as árvores, gritou entusiasmado:

- Mãe! Pai! Venham ver o que encontrei. Um ovo!

Os pais aproximaram-se e olharam atentamente para aquele ovo. Tinha a forma de um ovo, mas a sua casca era dura e preta, com pintas coloridas e corações vermelhos. Mas que ovo estranho!

- Posso ficar com ele? – Pediu o lobacho, que adorava colecionar objetos que encontrava nos seus passeios.

Com a permissão dos pais lobo, o filhote voltou para a toca onde nascera, com aquele ovo tão diferente e tão bonito.

E, cansado das suas brincadeiras, o pequeno lobo adormeceu abraçado ao ovo.

Quando acordou, percebeu que o ovo estava quebrado em duas metades. O que teria acontecido para o ovo se ter partido?!

Começava o lobacho a ficar um pouco triste quando, de repente, ouviu um “cócórócócó”. De onde viria aquele som?

Olhou à sua volta, mas dentro da toca não viu mais nada que já lá não estivesse quando adormeceu.

Quando olhou para a saída da toca, viu que lá fora o sol acordava e que a luz do dia anunciava o amanhecer. Os pais ainda dormiam, porque de noite tinham ido caçar para o alimentar. Ele saiu muito devagarinho, para não os acordar.

Já fora da sua toca, olhou para o carvalho mais próximo e viu, nos seus ramos, empoleirado um galito. Ou melhor, tinha a forma de um galo, com bico amarelo e crista vermelha, mas não tinha penas e o seu corpo era preto com pintas coloridas e corações vermelhos. Tal como a casca partida que tinha deixado dentro da toca.

O galito, entusiasmado, anunciava o amanhecer com o seu cócórócócó animado.

- Cócórócó, cócórócó… CÓóóólá. Vejo que te acordei. Desculpa lá, mas já diz o ditado que “deitar cedo e cedo erguer, dá saúde e faz crescer” – cantou o galito para o pequeno lobo.

- Não faz mal. - Disse o lobacho, ainda meio ensonado, porque os lobos não se deitam cedo - Eu sou um lobacho, porque ainda sou um lobo pequenino. E tu quem és?

- Eu sou o pinto. Ou melhor, o galito, que nasceu do ovo que ontem encontraste na floresta. Não sei como lá fui parar, mas agradeço-te me teres chocado. – Disse o galito do alto da árvore.

- Eu?! Eu choquei-te?! Mas eu não te dei nenhum choque?!

O lobacho não estava a perceber patavina daquela conversa, até que o galito lhe explicou o que tinha acontecido. Com o calor do seu corpo e o seu pelo quentinho, aconteceu àquele ovo estranho o que acontece a todos os ovos de onde nascem os pintainhos.

- O ovo eclodiu porque eu deixei de caber lá dentro. Por isso, parti a casca para apanhar ar e poder cantar. – Explicou o galito.

- Mas deixa que te diga, que não pareces nada com os galos que eu conheço! – Disse um pouco desconfiado o lobacho.

- Vou explicar-te porquê… – Disse o galito ao lobacho, com um ar de grande conhecedor da sua origem. - …ao contrário dos outros galos, não nasci do ovo de uma galinha, nem num ninho. Eu nasci de uma lenda e das mãos de um oleiro, ali para os lados de Barcelos. Não tenho penas macias, porque sou de barro, e as minhas cores tornam-me diferente, mas também especial. E como graças a ti, consegui sair do ovo, vou considerar-te meu amigo.

- Amigo?... Queres ser meu amigo?! – Perguntou o lobacho.

- Não gostavas que fossemos amigos?! – Perguntou admirado o galito.

- Adorava ter-te como amigo. Mas tu sabes que os lobos gostam de galos, mas nem sempre será para serem os melhores amigos, não sabes? - Lembrou o lobacho que já tinha aprendido algumas das lições que os pais lhe tinham ensinado.

- Eu sou demasiado duro para os dentes de qualquer lobo. E até um pouco indigesto.- Cantou o galito sorridente, enquanto esvoaçava entre os galhos do carvalho, na direção do seu novo amigo - Por isso, não há problema.

O lobacho ficou tão feliz por ter um amigo com quem brincar que, depois de ter contado esta novidade aos pais lobos e eles terem conhecido o galito, decidiram que ele faria parte da família.

O lobacho e o galito cresceram a brincar na Natureza, na floresta do Gradil, tal como gostam as crianças de fazer. A mãe e o pai lobo mostraram-lhes que era na natureza que podiam aprender tudo aquilo que precisavam saber. Conheceram o dia e a noite, o calor e o frio e aprenderam a atravessar o rio. Conheceram sons, cheiros, sabores, formas, texturas e cores. Aprenderam a evitar o perigo e a escolher o melhor sítio para o abrigo.

Nas suas brincadeiras, o galito e o lobacho, aprenderam também que os amigos se podem divertir e passar o tempo a rir, mas também as diferenças e as tristezas gerir.

Descobriram que as suas diferenças na espécie, no tamanho, nas necessidades e nas habilidades, os poderiam ajudar nas suas dificuldades. E como um uiva e o outro canta, e não sabem falar chinês, decidiram inventar o “galobês”.

Ao fim de alguns meses o lobacho tinha-se transformado num belo Lobo e o galito, num colorido Galo de Barcelos.

Agora que o seu filho já tinha crescido, a família lobo iria voltar a juntar-se à alcateia. A grande família a que os lobos pertencem e que, entre si, se cuidam e protegem. A alcateia que vivia naquela floresta, onde o grupo de humanos os faziam sentir-se seguros e felizes,

O Galo começou a pensar se seria boa ideia juntar-se a tantos lobos.

Ele conhecia bem o seu amigo Lobo, com quem gostava de brincar e de fazer descobertas, mas e se os outros lobos não percebessem que ele era duro e que não fazia bem ao estômago de nenhum animal carnívoro?

E se lhe tentassem enfiar o dente e lhe partissem a crista ou o bico?!

Depois não haveria por ali nenhum oleiro que o consertasse…

Oleiro! Mas como é que ele ainda não se tinha lembrado disso?!

Foi então que decidiu convidar o seu amigo Lobo a conhecer um oleiro. Aquele que com as suas mãos o tinha moldado. Chamava-se Domingos e vivia ali para os lados de Barcelos.

O Lobo ficou tão entusiasmado com a ideia de viajar e de conhecer outro sítio, para além da floresta onde sempre tinha vivido, que aceitou logo o convite. Despediram-se dos lobos de alcateia, prometendo que lhes fariam chegar notícias suas.

Como nas histórias se podem fechar os olhos e viajar para onde se quiser, o Galo empoleirou-se no Lobo, fecharam os olhos no Gradil, e quando os voltaram a abrir, já estavam em Barcelos. Mesmo em frente a casa do seu oleiro. O Galo cantou e à porta veio uma senhora, muito simpática, com as mãos marcadas pelo barro que moldava. Reconheceu o Galo que o avô tinha criado, há muitos anos atrás. O senhor já não morava ali. Tinha partido para um sítio longínquo, cheio de barro e tintas coloridas.

Ela chamava-se Júlia, era sua neta, e também era oleira. A sua filha Prazeres também gostava de trabalhar o barro e as duas continuavam a arte do seu avô e bisavô Domingos.

O Galo e o Lobo apresentaram-se e contaram a sua história. A oleira Júlia percebeu que não precisava ter medo do Lobo, pois era um Lobo que só comia histórias.

Por isso contou-lhe muitas das que conhecia e que também tinha aprendido com a sua mãe Rosa. Contou histórias grandes, com muitas personagens e lugares e o Lobo ficou de barriga cheia. E como o Galo também já parecia ter fome, contou histórias em grão… Pequeninas, divertidas e com migalhas de pão.

Tornaram-se grandes amigos. A oleira Júlia ensinou-os a trabalhar e a pintar o barro e os animais ensinaram-lhe “galobês”…

E juntos faziam três.

Vitória, vitória, acabou-se a história. Marmelada, marmelada e a história está acabada.

Ou, talvez não. Porque esta história, que começou com um lobo e um ovo, depois do fim, foi ilustrada com um belo GaLObo…

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